segunda-feira, 7 de abril de 2008

“Não Estou Aqui Para Lixar Ninguém!”

Frase proferida por grande nº dos enfermeiros que orientam alunos de enfermagem em estágio.

No nosso inquérito “Qual o maior problema da Enfermagem?” a falta de reconhecimento das nossas competências técnicas foi o ponto mais votado (61%), seguido pela falta de peso político da Ordem dos Enfermeiros (OE) e do Sindicato (56%).
Em relação à OE e ao Sindicato, não menosprezando o trabalho dos colegas envolvidos nestas instituições, enquanto uns estiverem presos às “acções inter-dependentes ou independentes, focos e juízos, perfis do enfermeiro, às vivências e afins” e outros tiverem corados de “vermelho” está tudo dito!
Porque será que existe falta de reconhecimento das nossas competências técnicas? Das duas uma: ou a maioria das pessoas (enfermeiros incluídos) não sabe quais são as nossas competências técnicas ou estas pura e simplesmente não existem!
Lembrei-me de 3 frases ditas por enfermeiros (pelo menos têm o referido título!) que me marcaram:
“Sr.ª Enf.ª pode-me tirar o soro para ir ao WC?” (doente)
“Já sabe que não posso tirar o soro, o Sr. Dr. não quer que se tire o soro!” (enfermeira)

“Sr.ª Enf.ª queria saber como é que está o meu pai? (familiar de doente)
“É melhor falar com o médico” (enfermeira) nota: o doente não estava em fase terminal nem tinha diagnósticos para serem comunicados.

“Dr.ª X pode vir ver a Sr.ª da cama 32, é que ela está esquisita.” (enfermeira)
“A Sr.ª está prostrada, é isso que me quer dizer?” (médica)
“Pois é isso” (enfermeira). Nota: a colega em causa já tem vários anos de profissão.

Queremos ser autónomos, que as nossas competências sejam reconhecidas mas nos pequenos gestos do dia-a-dia, nós próprios não reconhecemos nem valorizamos as nossas intervenções.
Será que um enfermeiro não tem competência para explicar a um doente porque não se deve retirar um soro para fazer a higiene? Será que não podemos falar com as famílias, explicar-lhes a situação dos seus doentes? E a nossa linguagem? Reflecte o grau de licenciado?

Por falar em grau de licenciado, actualmente os alunos de enfermagem são entregues aos enfermeiros dos serviços. “É no sentido de adequar o ensino à prática”, alguém me respondeu.
Pois bem, a frase que mais ouço dos colegas que orientam os alunos é “Não estou aqui para lixar ninguém!” Os alunos funcionam como mão de obra barata, dão jeito porque fazem o trabalho (bem ou mal) e depois como somos todos bons colegas ninguém chumba e até têm boas notas!
Conheço um colega que rema contra a maré e estabelece um plano de estágio baseado, em estudos de caso. O objectivo é desenvolver as capacidades de raciocínio clínico interligando os conhecimentos teóricos com os aspectos individuais de cada doente. Sabem o que os colegas dizem aos alunos que são atribuídos a este colega? Tiveste azar!
Qual a exigência técnico-científica que exigimos aos futuros enfermeiros? Se pouco nos importa que no futuro ninguém reconheça as suas competências técnicas, é mau mas pronto. Agora não nos esqueçamos que serão estes “projectos” de enfermeiros que amanhã cuidarão de nós e da nossa família!
Até para ficar doente é preciso ter sorte!!!

3 comentários:

Unknown disse...

Os enfermeiros que orientam os alunos, não foram formados para tal. Fazem o trabalho de 2 ou 3 enfermeiros no serviço, que tem falta de recursos humanos e ainda tem a seu cargo a orientação de 1 ou mais alunos. Claro, que não motivação para ensinar e fazer pensar os futuros enfermeiros, nem tempo para grd questões e reflexões. Eu própria já fui aluna, e vi o desespero dos enfermeiros em tentarem me acompanhar, apoiar e explicar. Na orientação tem de haver tempo e dedicação, para se poder estimular o aluno. Os alunos são cada x mais, parecem coelhos a "triplicarem-se" enkuanto os enfermeiros orientadores/tutores são cada x menos e mais cansados.
A nossa enfermagem precisa urgentemente de uma revolução, estamos a cavar o nosso buraco...

slbatedpsdamorte disse...

A autonomia conquista-se e nao basta dizer que se quer..

Para sermos autonomos (sou aluno de 4ano ainda) temos que ter capacidade para tal. nao se pode sequer pensar em autonomia quando vemos/ouvimos respostas dessa..."é melhor falar com o médico"

nao faz sentido falar em autonomia quando vejo enfermeiro serem meros cumpridores de prescrição médico..e que quando dizemos alguma coisa (como alunos) parece que estamos a chegar ao fim do mundo e somos aconselhados a nao fazer mais do que cumprir as tais prescriçoes..porque é mais confortável..

enfim..é preciso mudar mentalidades..

gostei muito do blog..se quiseres passa no meu...

http://vida-de-estagiario.blogs.sapo.pt/

O Enfermeiro disse...

Caro colega
Gosto de aqui passar.
Boa reflexão.

Qual o principal problema da Enfermagem?